Nos meus grupos ativos, na criação de um ficheiro partilhado para atividades colaborativas presenciais, há um elemento especial: os identificadores de grupo. Podem ser cartões, números, objetos — o que cada pessoa decidir.
Na tarefa de aplicação, peço para incluírem uma imagem do que iriam usar. Há dois anos uma docente mostrou, entusiasmada, os peluches do LIDL. Era nutricionista, os peluches tinham inclusive valor temático. Foi uma festa no grupo, pelo menos para algumas pessoas, porque alguém também escreveu no chat:
“Totalmente desadequado a estudantes do Ensino Superior, estamos a infantilizar os alunos”
Engoli em seco. Compreendi e conheço bem este argumento. Ouço-o pelo menos uma vez por mês:
Dar feedback específico é
“infantilizar os alunos”
Usar cartolinas de cores, legos e bolas também.
A explicação?
“Nas empresas não é assim, temos de os preparar para a vida”
Sim, é verdade que infantilizamos frequentemente os/as estudantes do Ensino Superior. Mas não é por usarmos peluches.
Infantilizamos quando lhes retiramos autonomia ao definirmos percursos rígidos nas unidades curriculares.
Quando damos feedback diretivo,
“deviam fazer assim e assado”
como se fossemos pais a mandá-los arrumar o quarto.
Quando fazemos piadas desrespeitosas
“já sei que são daquelas cambadas que só estudam na véspera do exame”
Quando impomos regras punitivas como se estivéssemos a lidar com adolescentes que chegaram tarde da discoteca.
Esquecemo-nos, pontualmente, que lidamos com adultos.
Esquecemo-nos de que é a andragogia a bussola da nossa prática docente.
Foi deste episódio que nasceu o slide “A saia da Carolina”. Tem a foto de uma senhora lindíssima, elegante, que acompanha a minha explicação:
“Adoro a saia da Carolina. É lindíssima. Fica-lhe tão vem. Não a compraria para mim. Não porque a saia é feia, não porque lhe fica mal, simplesmente porque não me ficaria bem a mim. Conheço-me, não é o meu estilo. Isso não faz com que a saia da Carolina seja desadequada ou inapropriada. Apenas faz dela a saia da Carolina e não a da Sofia. Por isso peço que hoje, quando virmos algo de um/a colega que não é o estilo, possamos pensar, de um lugar de não crítica - «não usaria, mas que bem que lhe fica!»”
Esta semana uma docente trouxe-me outro olhar…
Numa formação de docentes do ensino superior em que eu uso bolas, cartas, legos e em que os colegas sugerem peluches, e miniaturas da Patrulha Pata e outros identificadores que têm lá por casa surgiu o…
“Será que por usar simples números sou pouco criativa? Demasiado séria?”
Uma pergunta legítima, uma preocupação totalmente válida, nascida do ambiente descontraído e partilhada num lugar seguro.
Acrescentei algo à saia da Carolina. Eu não querer usar a saia da Carolina não me faz menos feminina, nem menos elegante. Só me faz mais Sofia.
Que o caminho na docência seja sempre esse:
– sabermos quem somos
– podermos ser quem somos
– sentirmo-nos bem a sê-lo – fora e dentro da sala de aula.
E, se for o nosso estilo, assumirmos que brincar não é só para as crianças, e que somos um bocadinho crianças, todas/os. Ao nosso estilo. Ao nosso tempo.
Uma celebração especial neste dia das Crianças – que ainda podemos ser todos/as nós – e uma magnífica semana de partilha de conhecimento,
Sofia


