Dei formação de Microsoft Excel Avançado num instituto público em Lisboa durante meses. A formação começava às 9:00. As pessoas chegavam a partir das 9:20, o que prejudicava imenso a formação.
Comecei a introduzir estratégias para fazer cumprir a pontualidade, como começar formação às 9:05 em ponto, quem chegasse atrasado teria de esperar pelo próximo exercício/conteúdo para apanhar o barco, dar rebuçados a quem chegasse a horas, entre outras. Resultou. A pouco a pouco, resultou.
Esse grupo começou a chamar-me “a nazi das horas”, com carinho. E comecei a repetir a expressão, a dizer a outros grupos formativos que era a nazi das horas. Uns meses depois, recebi um email de uma formanda.
“Sofia adorei ter formação consigo, mas tenho de partilhar algo. Os meus pais estiveram em Auschwitz. Sempre que a sofia diz a palavra Nazi, um arrepio frio percorre-me a existência”
Numa aula de comunicação, usei uma vez o exemplo “imaginem que um colega vosso está a ouvir heavy metal altíssimo e vocês estão a tentar estudar. Como resolvem a situação?”. Nesse dia, recebi um feedback anónimo de um/a estudante
“e se fosse Beethoven, não fazia mal?”
Hoje tive duas formações em que falei de Lamborghinis, de manhã e de tarde. Fiz um post sobre isso aqui, e tudo, com imagens. Uma formanda incrível, já de alguns meses, partilhou há pouco comigo…
“tenho de confessar Sofia. Sempre que falou hoje de Lamborghinis, pensei nos jogadores que faleceram no acidente de carro”
Em todas estas situações, podia ter seguido o caminho da negação – “Hoje em dia é tudo tão sensível, não se pode dizer nada que fica tudo ofendido”.
Podia ter seguido o caminho da autocrítica – “Sofia que insensível, como é que não pensaste nisto? Como é que isto te passou?”.
Opto, sempre, por um terceiro caminho. Só serei insensível se ignorar o desconforto honesto que foi partilhado. Não há nem deve haver lugar para julgamentos se o desconforto é “válido” ou não.
Se uma pessoa ficou desconfortável, tenho uma responsabilidade. Nem sempre estarei ciente do peso emocional das minhas palavras — não sabia, por exemplo, a marca do carro envolvida no acidente. E aceito isso. Aceito porque o meu caminho pedagógico é e sempre será o mesmo: Fail Forward.
Aceitar a situação com consciência pedagógica e usá-la para avançar, para evoluir, para estar mais atenta da próxima vez. Nunca mais usei o termo nazi das horas, e pedi desculpa. Troquei o exemplo “heavy metal altíssimo” por “música alta”, e pedi desculpa.
Nunca mais falarei de Lamborghinis em formações de planificação de unidades curriculares. Estive até agora a trocar os slides todos de amanhã para Ferraris. Que além de lindíssimos, são quase todos vermelhos – a minha cor favorita.
Que a empatia nos guie nos erros dos outros, e que consiga também ajudar-nos a cometer novos erros, porque a conseguimos aplicar a nós próprias/as para sermos melhores amanhã do que somos hoje.
Um beijinho, Sofia


